Fluxo de Caixa Investidores x Acionistas:
O fluxo de caixa para os investidores ou o fluxo de caixa de todo o negócio, possui dois donos: credores e acionistas. Portanto, esse fluxo de caixa dos investidores pode ser dividido em outros dois: (i) fluxo de caixa para os credores e (ii) fluxo de caixa para os acionistas.
O fluxo de caixa para os credores é definido nos diversos contratos de crédito e o fluxo de caixa para os acionistas é o residual, calculando-se subtraindo do fluxo de caixa dos investidores o fluxo de caixa para os acionistas.
Concluindo, para chegarmos ao fluxo de caixa para os acionistas, precisamos calcular primeiro o fluxo de caixa para os investidores.
Em teoria, tanto um quanto outro ponto de vista (acionista ou investidores) deveriam atribuir o mesmo valor a uma mesma empresa e, consequentemente, as suas ações.
Fluxo de Caixa para os Investidores:
Para verificarmos o valuation a partir do ponto de vista do acionista, vamos calcular primeiro o fluxo de caixa para os investidores.
Para um negócio funcionar, como uma padaria, são necessários, minimamente, instalações (ativo operacional fixo) e estoque. Como o estoque é pago tanto à vista como à prazo, nossa padaria tem contas a pagar.
O estoque líquido do contas a pagar faz parte do capital de giro líquido, o qual já explicamos em outra página.
Portanto, um negócio é formado por dois ativos: (i) ativo operacional fixo e (ii) capital de giro, que somados, formam o ativo operacional total.
Ambos os ativos devem ser financiados pelos investidores, que são tanto os credores como os acionistas. Vamos supor que precisamos de (i) R$ 90,00 em instalações e (ii) R$25,00 de estoque, sendo R$15,00 financiados pelo fornecedor. Sendo assim, verificamos que os investidores têm que financiar R$100 (90 + (25-15)).
Montada a padaria no ano 0, vamos calcular seu fluxo de caixa ao longo do ano 1. O fluxo de caixa é construído a partir do demonstrativo de resultado (DRE). Como nos interessa o fluxo de caixa dos investidores, ou seja, credores ou acionistas, dos itens da DRE, devemos ignorar as despesas financeiras líquidas, pois estas são pagas aos credores e, portanto, fazem parte do caixa recebido pelos investidores.
Vamos considerar que a padaria teve, no ano 1, teve: (i) vendas líquidas = R$60,00; (ii) custo do produto vendido =R$35,00 (R$1,00 de mao de obra direta + R$25,00 de matéria prima + R$9,00 depreciação); (iii) despesas operacionais de R$3,00 – composto de R$1,00 de despesas com vendas e R$2,00 de despesas gerais e administrativas.
O imposto de renda (34%) que deve ser utilizado é sobre o resultado operacional, portanto 34% x R$22,00 = R$ 7,5
DRE Parcial Padaria Ano 1 | |
Vendas Líquidas | 60,00 |
Custo por vendas – mão de obra | (1,0) |
Custo por vendas – Matéria prima | (25,0) |
Custo por vendas – Depreciação | (9,0) |
Despesas Operacionais – Vendas | (1,0) |
Despesas Operacionais – Gerais e Administrativa | (2,0) |
Resultado Operacional = | 22,0 |
Despesa Financeira Líquida | 0 |
Imposto Operacional | (7,5) |
Resultado Operacional Líquido = | (14,5) |
O resultado operacional líquido seria o fluxo de caixa dos investidores se pudéssemos garantir que (i) todos os itens do DRE fossem caixa e (ii) toda a movimentação de caixa da padaria fosse refletida no DRE. Como não podemos garantir isso, precisamos ajustar o resultado operacional líquido para calcular o fluxo de caixa dos investidores.
Primeiro Ajuste:
O primeiro ajuste necessário é adicionar a depreciação de volta, pois não é uma despesa de caixa no momento em que ocorre. O caixa referente à depreciação é desembolsado quando pagamos pelo ativo fixo; a depreciação é apenas o reconhecimento contábil do uso desse ativo, sem representar nova saída de caixa. O mesmo vale para as amortizações.
Segundo Ajuste:
O segundo ajuste necessário é deduzir os investimentos em ativo operacional fixo realizados no período, já que esses investimentos não transitam pela DRE. Ou seja, supondo que, ao longo do ano 1, tenhamos comprado R$5,00 em novas instalações que foram ativadas (contabilizadas no ativo), este valor não passa como despesa no DRE. Porém, como houve saída de caixa, é importante refleti-la no fluxo de caixa. O investimento em ativo operacional fixo é conhecido como CAPEX, que deve ser abatido do resultado operacional.
Terceiro Ajuste:
Lembre que para constituir a padaria não bastou investir em instalações (ativo operacional fixo), foi necessário investir também em capital de giro líquido.
Já abordamos como calcular o capital de giro líquido aqui, sendo necessário também reduzir este valor do resultado operacional.
Resultado Operacional = | 22,00 |
– Imposto Operacional | (7,5) |
+ Depreciação / Amortização | 9,0 |
– Capex | (5,0) |
– Invest em Capital de Giro Liquido | (1,0) |
Fluxo de Caixa para os Investidores = | 17,5 |
Nos tópicos futuros, abordaremos a aplicação prática do fluxo de caixa através de exemplos.
Fonte Principal: Valuation – Guia Fundamental e Modelagem em Excel